O que é a tireoide?
A tireoide é uma glândula localizada na parte anterior do pescoço, esta assume um formato semelhante a uma borboleta, “abraçando” a traqueia. Assume importante papel no organismo por ser responsável pela síntese de hormônios tireoidianos, como T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).
Esses hormônios estão presentes agindo em nosso metabolismo desde a formação fetal até a senilidade.
Gestação
A gestação é um período na vida das mulheres que acarreta em várias mudanças significativas. Isso em vários âmbitos, como psicológico, físico e fisiológicos. Aqui nos atentarmos às mudanças relacionadas a tireoide.
Durante esse período, ocorrem adaptações na função de diversos mecanismos tireoidiano, alguns deles são:
– Maior inativação placentária dos hormônios tireoidianos por ação das deiodinases (enzima peroxidase envolvida na ativação ou inativação de hormônio tireoidianos) expressa pela placenta humana;
– Grande transferência dos hormônios tireoidianos maternos para o feto. Até a 16a semana de gestação o desenvolvimento fetal é dependente desse processo;
– Redução das frações livres dos hormônios tireoidianos, resultante do aumento da produção hepática de globulina ligadora de tiroxina, provocada pela elevação do estrogênio sérico;
– Maior estímulo do eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano, resultando em aumento das concentrações séricas do hormônio tireoestimulante (TSH) e consequente estimulação global da biossíntese de hormônios tireoidianos pela tireóide materna;
– Elevação dos níveis séricos do hormônio gonadotrofina coriônica humana (hCG), que exerce crucial ativação cruzada no receptor do TSH (TSHR), contribuindo também para adicional incremento na função tireoidiana;
– Transferência significativa transplacentária de iodo, com progressivo aumento da demanda fetal, sobretudo a partir da 14a semana de gestação, quando se inicia a produção dos hormônios tireoidianos por parte da tireoide em desenvolvimento no feto.
Vale ressaltar que na gestação, a necessidade diária de iodo aumenta de 150 para 250 μg/dia.
Entre a 7o e 11o semana gestacional, ocorre um aumento da função tireoidiana devido ao pico fisiológico de hCG. Essa condição manifesta-se com TSH menor que 0,01 mU/ℓ, ou em muitos casos, indetectável. Seu quadro clínico é brando e transitório de hipertireoidismo, conhecido como hipertireoidismo transitório gestacional.
Hipertireoidismo transitório gestacional
Esse quadro, geralmente, é pouco intenso, mas pode associar-se à hiperêmese gravídica (quadro associado aos níveis mais elevados de hCG), com manifestações, como:
– Vômitos;
– Desidratação;
– Perda ponderal;
– Cetonúria.
Em geral, observa-se que a partir do início do segundo trimestre (14ª a 18ª semana), o hipertireoidismo transitório gestacional perde intensidade. Assim, nota-se progressiva normalização dos níveis de TSH séricos.
Esta situação é esperada e deve ser diferenciada de outros quadros patológicos de tireotoxicose na mulher grávida.
Hipertireoidismo e gestação
O hipertireoidismo clínico caracteriza-se por níveis suprimidos de TSH e hormônios tireoidianos elevados, ultrapassando os limites de referência na gestação. As consequências desse quadro incluem:
– Aborto;
– Parto prematuro;
– Descolamento prematuro de placenta;
– Pré-eclâmpsia;
– Eclampsia;
– Insuficiência cardíaca congestiva;
– Crise tireotóxica.
Vale ressaltar que os quadros de hipertireoidismo subclínico (quando somente os níveis de TSH estão suprimidos) não está claramente associado a tais complicações.
Outras causas do hipertireoidismo na gestação:
– Doença de Graves;
– Tireoidite subaguda;
– Bócio uni (BUT) ou multinodular tóxico (BMNT);
– Adenoma hipofisário produtor de TSH;
– Struma ovarii;
– Metástases funcionantes de câncer de tireoide;
– Mutação germinativa no TSHR (receptor de tirotrofina).
Uma condição especial é a tireotoxicose iatrogênica, que ocorre devido a ingestão excessiva de hormônios tireoidianos ou de iodo, assim como por medicamentos, como amiodarona.
TRATAMENTO
O hipertireoidismo transitório gestacional e o hipertireoidismo subclínicos não necessitam de tratamento específico. Segundo recomendações, as drogas antitireoidianas (DAT) precisam ser evitadas no primeiro trimestre, se possível.
Entretanto, os quadros de hipertireoidismo clínico são tratados com as drogas antitireoidianas, em primeira escolha. Visando manter a tiroxina livre no limite superior da normalidade ou ligeiramente acima desse limite.
Negligências relacionadas a tireotoxicose materna associa-se com riscos de:
– Aborto;
– Hipertensão;
– Prematuridade;
– Retardo de crescimento intrauterino;
– Óbito fetal;
– Crise tireotóxica.
O acompanhamento com médico especialista nesses casos é extremamente importante, objetivando uma gestação saudável e segura tanto para a mãe como para o feto.